O conflito entre Rússia e Ucrânia ressalta a permanência do petróleo como fator estratégico da geopolítica e economia global. Por mais que diversos países da União Europeia e até os Estados Unidos tenham estabelecido metas de substituição de combustíveis fósseis para cumprir com a agenda 2030 da ONU, que inclui zerar as emissões de carbono, a dependência do petróleo deve permanecer por mais um século, apontam pesquisadores.
Diante deste cenário, as sanções impostas à exportação de petróleo, gás e carvão da Rússia irão provocar a maior crise de abastecimento em décadas, indica a Agência Internacional de Energia (AIE). Cerca de 2,5 milhões de barris diários de exportações estão em risco, sendo 1,5 milhão de barris de petróleo bruto e 1 milhão de outros produtos e derivados.
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"A perspectiva de interrupções em larga escala na produção de petróleo russa está ameaçando criar um choque global de oferta de petróleo", afirma a AIE em comunicado.
Com a diminuição da oferta, o preço do barril do petróleo atingiu, na semana passada, o valor mais alto dos últimos 14 anos, superando US$ 130 por barril.
Nesta semana, devido às novas restrições relacionadas a um novo surto da pandemia de covid-19 na China — o maior importador de petróleo cru do mundo — o preço do barril caiu para US$ 99, no entanto ainda representa uma alta de 30% em comparação com 2021. Já a demanda total de 2022, fixada pela AIE, é de 99,7 milhões de barris por dia, um aumento de 2,1 milhões de barris em relação ao ano anterior.
Para controlar os preços e atender a demanda interna, autoridades estadunidenses buscam estabelecer acordos com antigos rivais, como Venezuela e Irã.
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Após enviar uma comitiva a Caracas, a administração de Joe Biden afirma que ainda não está em discussão a importação de petróleo venezuelano. "Não é algo que estamos conversando de forma ativa agora", afirmou em coletiva de imprensa, na última segunda-feira (14), a porta-voz da Casa Branca, Jen Psaki.
A Venezuela produz cerca de 788 mil barris diários, enquanto o Irã extrai 2,5 milhões de barris por dia, segundo o balanço de março da Organização do Estados Exportadores de Petróleo (OPEP). A produção venezuelana é exatamente a demanda estadunidense que ficou descoberta pela suspensão das importações de Moscou — cerca de 700 mil barris de petróleo super pesado.
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O venezuelanos são donos da maior reserva certificada de petróleo do mundo: 302,8 bilhões de barris. A Faixa do Orinoco, nos estados Guárico, Anzoátegui e Monagas, concentra a maior parte dessas reservas assim como outros minerais: ferro, diamante e ouro.
Desde 2007, a área foi liberada pelo governo bolivariano para atividade de transnacionais. Além de empresas estadunidenses, como a Chevron, também estão a francesa Total, a norueguesa Equinor, a Oil India e a estatal russa Rosneft, com estrutura instalada no local.
Em 2010, o então presidente venezuelano Hugo Chávez assinou 31 acordos de cooperação com seu homólogo russo, Vladimir Putin, prevendo um investimento de US$ 1 bilhão no setor energético, e concedendo o direito de extração de petróleo cru no campo Junín 6 da Faixa do Orinoco, sendo 60% das ações da estatal venezuelana PDVSA e 40% da Rússia.
Em 2017, a Rosneft inaugurou a Base Operacional Perforosven com a promessa de extrair 800 mil barris diários.
Enquanto a PDVSA perdeu cerca de 60% da sua capacidade de produção nos últimos seis anos de bloqueio econômico, a infraestrutura das transnacionais permaneceu intacta.
O embaixador russo em Caracas, Mélik-Bagdasárov, destacou que Moscou apoia a normalização das relações entre a Venezuela e os Estados Unidos.
"Essa apromixamação que [os EUA] propõem para comprar petróleo é uma evidência que aprenderam que aqui há um governo constitucional", afirmou o diplomata durante um programa de entrevistas com o ministro de Cultura venezuelano, Ernesto Villegas.
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Apenas quatro dias depois da visita dos funcionários de Biden ao Palácio de Miraflores, a vice-presidenta Delcy Rodríguez e o chanceler Félix Plasencia se reuniram com o ministro de Relações Exteriores russo, Serguei Lavrov, na Turquia, logo após a terceira rodada de negociação entre Rússia e Ucrânia.
"Conversamos sobre desenvolvimento dinâmico das relações bilaterais numa associação estratégica e reafirmamos nossa identidade sobre os problemas mundiais", afirmou Plasencia depois do encontro.
Para alguns especialistas, com as novas sanções, a Venezuela poderia triangular produção de petróleo de empresas russas no território venezuelano.
A Chevron, que controlava quatro poços na Faixa do Orinoco, já sinalizou que com o relaxamento das sanções econômicas por parte de Washington, poderia voltar a produzir em solo venezuelano.
Durante a 2ª Guerra Mundial, a Venezuela foi responsável por atender 65% da demanda de combustível dos Aliados (EUA, Reino Unido e França). Para o ex-assessor da PDVSA, Franco Vielma, hoje é impossível pensar que o país poderia cumprir o mesmo papel que no passado, mas nem por isso a Venezuela é menos importante no cenário global.
"No entanto, [a Venezuela] poderá ter um papel importante no transporte, despacho e armazenamento de certas matérias-primas estratégicas, já que tem o Mar do Caribe como um espaço de bifurcação", comenta Vielma.
Uma vez que os principais canais de escoamento da produção fora do continente americano, como canal de Suez, o estreito de Gilbraltar, o canal de Bósforo, o mar Negro e o mar Báltico, estão comprometidos pela guerra, o mar do Caribe adquire maior importação para escoamento da produção.
Edição: Thales Schmidt