SEGURA ESSA MORO
Como tem cidadania espanhola, já estava na Europa, pois se sabia investigado, e foi capturado pela Interpol. Saiu da prisão em janeiro deste ano e, em julho, conseguiu que a Justiça da Espanha negasse sua extradição. É tratado por Moro e a força-tarefa como “foragido”. Durán negociou uma delação com o MP, porém não chegou a assiná-la, pois teria de confessar crimes que, segundo diz, não cometeu. E aí foi para o ataque, com acusações aos métodos da força-tarefa, suspeitas sobre Moro e denúncias de uma “indústria da delação” em Curitiba. Pelo que ele explica, recorreu a uma “panela” de advogados em Curitiba para conseguir facilidades junto ao MP ao negociar a delação. O escolhido para negociar em seu nome foi o advogado Carlos Zucolotto Jr., padrinho de casamento de Moro e sócio de uma banca que já teve a esposa do juiz, Rosângela.
Zucolotto tinha sido correspondente do escritório de Durán em Curitiba. Sua entrada em cena teria conseguido baixar de 15 milhões para 5 milhões de reais a multa que a força-tarefa queria de Durán em uma delação. A redução teria sido costurada na base de grana, 5 milhões.
Durán afirma ter duas provas dos contatos e dos resultados da ação de Zucolotto, que nega tudo. Uma das provas é uma conversa tida por eles pelo celular através do aplicativo Wicker, que destrói as mensagens assim que estas são lidas. Ele fotografou a conversa e a submeteu a uma perícia.
O conteúdo alegado da conversa está reproduzido em um livro que Durán prepara, intitulado por ora de Testemunho – O que sei sobre Odebrecht e a Operação Lava Jato.
A ocorrência dos contatos entre Durán e Moro já havia sido noticiada pela Folha de S.Paulo, em agosto. Na época, Moro divulgou nota a chamar de “absolutamente falsa” a afirmação do “foragido” de que Zucolotto teria lhe ajudado. Para o juiz, o nome de seu amigo foi usado “para denegrir-me”. A outra prova da intermediação de Zucolotto seria um e-mail enviado à defesa de Durán por três procuradores da força-tarefa, Carlos Fernando do Santos Lima, Roberson Pozzobon e Julio Noronha, com uma minuta de acordo de delação. Nessa minuta, segundo Durán, haveria uma pista sobre os 5 milhões de reais que seriam usados para azeitar o acordo. A multa de 15 milhões seria paga com o dinheiro de uma conta sabidamente sem fundos. Nesse caso, a multa ficaria automaticamente reduzida a 5 milhões.
Na nota de agosto, Moro também defende o MP das alegações de Durán. “Nenhum dos membros do Ministério Público Federal da força-tarefa em Curitiba confirmou qualquer contato do referido advogado sobre o referido assunto ou sobre qualquer outro, porque de fato não ocorreu qualquer contato”.
Pelo que Durán explica, a delação da Odebrecht seria praticamente uma fraude, construída dessa forma com a cumplicidade da força-tarefa de Curitiba. A empreiteira revelou somente sobre uma das contas utilizadas para pagar “por fora” o casal de marqueteiros João Santana e Monica Moura, a Shellbill. A dupla receberia dinheiro por outras três contas também, a Deltora Entreprise Group, a Zeal e a Nicolas Sawne Barake.
Outra informação pela metade, conforme o advogado: ao abrir o jogo sobre seu sistema eletrônico usado para gerenciar o pagamento de propinas, a Odebrecht falou apenas do Drousys, mas preservou das vistas da Justiça e do MP aquele que seria o sistema completo da propinagem, o My Web Day.
A fonte das informações prestadas pela Odebrecht na delação é de fato um mistério, mesmo no caso do Drousys. No acordo de delação, há uma cláusula que permite ao MP guardar o sistema para si e negar o acesso a quem quer que seja. Trata-se da cláusula 2 do anexo, que diz: “O órgão custodiante dos Sistemas no âmbito do MPF será a Procuradoria-Geral da República, à qual caberá: …” E, no item IV da cláusula: “Não autorizar o fornecimento de cópia integral dos Sistemas a terceiros”.
A defesa do ex-presidente Lula, por exemplo, tenta sem sucesso ter acesso a todos os sistemas de propinagem, já que no processo sobre o sítio de Atibaia há acusações odebrechtianas. No início do mês, pediu a Moro para que Durán fosse ouvido, mas o juiz negou. “Nós, da defesa do presidente Lula, queremos abrir o My Web Day. Temos certeza de que o nome dele não está lá”, afirma o deputado Paulo Pimenta (PT-RS), membro da CPI da JBS.
No fim de outubro, Pimenta esteve com Durán na Espanha, juntamente com o deputado Wadih Damous (PT-RJ), a negociar o depoimento do advogado por videoconferência. A dupla petista gravou conversa de 1 hora e 10 minutos com o advogado e, na volta ao Brasil, protocolou seu conteúdo nos arquivos da CPI. Foi com base na gravação que o comando da comissão marcou o depoimento para o dia 30.
*Com informações da Carta Capital
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