Em reunião ampliada com ex-ministro Celso Amorim, CUT-RS define estratégias para aumentar resistência
Com a participação de mais de 140 dirigentes sindicais, a reunião ampliada da CUT-RS referendou um documento com resoluções definindo “estratégias e tarefas para aglutinar forças em torno de uma resistência que dialogue com a sociedade, em defesa da democracia, dos direitos e da soberania nacional, e que se articule com a campanha Lula livre”. O encontro, que teve palestra do ex-ministro Celso Amorim, foi realizado na manhã desta quarta-feira (21), lotando o auditório do Sindipolo, no centro de Porto Alegre.
O documento, em sintonia com a resolução da última reunião da Executia Nacional da CUT, visa “subsidiar o debate nas entidades sindicais”, apontando cinco eixos “para contribuir na unidade das forças democráticas e populares, a fim de enfrentar o retrocesso”. Trata-se de lutar por nenhum direito a menos, atualizar a estratégia organizativa e as ferramentas de comunicação, realizar uma cruzada de formação política e de elevação da consciência, e se engajar na campanha pela libertação de Lula, condenado sem provas e preso político desde 7 de abril, em Curitiba.
Construir a unidade das forças democráticas e populares
Para o presidente da CUT-RS, Claudir Nespolo, “sofremos uma derrota eleitoral, mas estamos vivos politicamente. Bolsonaro se preparou para ganhar no 1º turno e com até 70% dos votos, não foi o que aconteceu. Agora que uma parcela do seu eleitorado se arrependeu de ter votado nele, não podemos botar o dedo na cara e dizer que nós avisamos. Temos de fazer a disputa ideológica”, salientou.
Nespolo destacou a importância da unidade do campo democrático e popular, defendendo a construção de uma frente ampla, integrada pelas centrais sindicais e movimentos sociais que não se identificam com o projeto privatista de Bolsonaro, para aumentar a resistência da classe trabalhadora e da sociedade.
“Não devemos baixar a cabeça e temos de seguir na luta, pois o presidente eleito já sinalizou que dará continuidade à agenda neoliberal do governo Temer”, frisou o dirigente da CUT-RS.
Semelhança de Bolsonaro e Trump traz riscos ao Brasil
O diplomata e ex-ministro das Relações Exteriores nos governos Lula e da Defesa no governo Dilma Rousseff, Celso Amorim, começou dizendo que não é possível enquadrar Bolsonaro como “nacionalista”, uma vez que ele e o futuro ministro da Economia defendem privatizações para fazer negócios com poderosos grupos estrangeiros.
Ele se mostrou preocupado com as questões internacionais e criticou “a desnacionalização da Embraer” e “o desprezo pelas normas multilaterais”. Observou que “essa semelhança com o modelo de governo de Donald Trump, nos EUA, nos coloca em uma situação preocupante e delicada e traz riscos ao Brasil”.
Para ele, os problemas da indústria merecem uma atenção especial do movimento sindical. “O trabalhador pode ter todos os seus direitos garantidos, mas se não buscarmos uma maneira de conter a desindustrialização do país, o desemprego deve se agravar ainda mais”, pontuou.
“Estamos vivendo o que nunca vivemos antes”
O ex-chanceler apontou que “retrocesso seria voltar aos governos anteriores, mas o que está sendo proposto não se compara nem com a ditadura. “Há também uma diferença com o Collor, que é a presença de militares”, alertou. “Estamos vivendo o que nunca vivemos antes”, enfatizou.
Segundo Amorim, a defesa das liberdades é fundamental e “é preciso restabelecer o discurso da racionalidade para resgatar a confiança”, a fim de desconstruir as mentiras espalhadas por Bolsonaro, através de entrevistas à imprensa e postagens nas redes sociais.
Ele reforçou a importância do diálogo e da união das forças democráticas e populares , chamando a atenção para a defesa da democracia, da soberania nacional e da luta contra a desigualdade.
Conforme o ex-ministro, “a desigualdade não é somente social, mas também de gênero e racial”.
“Não podemos desistir da luta pela democracia”, salientou. “A esperança está no povo”, concluiu.
Mapa das eleições 2018
A economista Anelise Manganelli, do Dieese, fez uma apresentação sobre o resultado das eleições 2018 no Rio Grande do Brasil e no Brasil. Ele apontou que no segundo turno Bolsonaro recebeu 55,1% dos votos no país, enquanto no RS alcançou 63,2%. Haddad obteve 44,9% no país e 36,8% no RS. No entanto, ela observou que votos brancos, nulos e abstenções somaram 28,2% no país.
Ela destacou também que metade dos deputados federais gaúchos que aprovaram a reforma trabalhista de Temer perderam 45% dos votos em comparação com as eleições de 2014, não foram reeleitos e não voltarão a Brasília. Os que foram reeleitos fizeram 13% de votos a menos. A queda da votação foi resultado da campanha de denúncias feita pela CUT-Rs junto com sindicatos e federações.
Vencer os novos desafios da comunicação
A importância da inovação na forma de se comunicar com os trabalhadores foi tema de exposição da D3 Comunicação. Ele destacou a necessidade de fortalecer a atuação nas mídias sociais. Foi reforçada a realização de uma oficina de WhatsApp em parceria com o Sul21 no próximo dia 3 de dezembro, das 14h às 18h, no auditório do SindBancários, em Porto Alegre, para comunicadores e dirigentes das entidades filiadas à CUT.
Também foi definido o prazo até o dia 15 de dezembro para que as entidades remetam uma relação de dirigentes com seus números de celulares para a CUT-RS, visando organizar listas de transmissão de mensagens.
Segundo o secretário de comunicação da CUT-RS, Ademir Wiederkehr, “o objetivo é construir listas de transmissão para as entidades, a fim de proporcionar maior agilidade à divulgação de informações e combater a propagação de fake news”.
“Precisamos ajustar a nossa linguagem e desenvolver novas formas de abordar os trabalhadores. As forças conservadoras continuarão disputando a consciência da classe trabalhadora. O que precisamos é ampliar, rapidamente, o alcance de nossa comunicação tornando as nossas mensagens mais acessíveis, principalmente aos jovens e às mulheres”, diz um dos trechos do documento oficial distribuído pela direção executiva da Central no início do evento.
O secretário-geral adjunto da CUT-RS, Amarildo Cenci, acrescentou que, mais do que comunicar, é preciso transversalizar e mostrar como determinadas lutas afetam diferentes categorias de trabalhadores. “O combate ao projeto Escola Sem Partido não é uma pauta exclusiva dos professores e profissionais da educação. Essa proposta afeta o metalúrgico, o bancário e o servidor público, dentre outros”, destacou.
Mobilização em defesa da Previdência
Foi ainda definido a realização de uma panfletagem do jornal nacional das centrais sindicais nesta quinta-feira (22), a partir das 7h30, em frente ao Centro Administrativo Fernando Ferrari (CAFF), em Porto Alegre. A mobilização vai marcar o dia nacional em defesa da aposentadoria, que se encontra ameaçada diante das propostas de Temer e Bolsonaro, que é ainda pior.
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Na próxima segunda-feira (26), às 12h, haverá um ato contra a reforma da Previdência, em frente ao INSS (Travessa Mário Cinco Paus), no centro da capital gaúcha.
Também foi estabelecido um processo de formação acelerada para novos dirigentes, a ser realizada entre fevereiro e maio de 2019. Foi reafirmada a retomada das campanhas de sindicalização (“Frente aos ataques, responda com um sindicato forte”), a disseminação das comissões sindicais de empresa e a otimização de estruturas rumo à organização de Centros de Referência Sindical para garantir a sustentação de muitas entidades.
A reunião ampliada da CUT-RS foi coordenada pelo secretário-geral adjunto e pela secretária de Finanças, Vitalina Gonçalves, e contou com a presença dos deputados estaduais Nelsinho Metalúrgico e Tarcísio Zimmermann, ambos do PT.
Fonte: CUT-RS