Como decisões históricas europeias resultaram na tensão entre Israel e Palestina; ouça análise

13/10/2023 18:13

Especialista em história árabe, Arlene Chemesha destaca que conflitos na faixa de Gaza revelam apartheid sionista

 

Palestinos sentados do lado de fora de prédio destruído por ataques israelenses na cidade de Rafah, em Gaza - Hatem Ali/AP

Não existe povo escolhido. Os povos têm direito à sua existência para viver em paz

A guerra entre Israel e o grupo radical islâmico Hamas ganhou mais um capítulo nesta semana. Ambos os lados reivindicam a sua soberania territorial, embora atualmente esse direito seja exercido plenamente apenas pelos israelenses. Os palestinos vivem na Cisjordânia e na Faixa de Gaza, áreas divididas pelo território de Israel, o que aumenta a tensão na região.

 

No último sábado (7), o Hamas lançou ataques aéreos e terrestres em diversas partes do território de controle israelense. A investida pegou o mundo de surpresa, e, como consequência, Israel declarou oficialmente guerra ao grupo, lançando vários ataques contra a população palestina em Gaza.

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Neste episódio do Três por Quatro, o Brasil de Fato traça uma linha histórica por trás da escalada do conflito, abordando o surgimento do movimento sionista e a criação do estado de Israel, em 1948. 

Segundo a professora de História da Universidade de São Paulo (USP) Arlene Clemesha, o conflito é o resultado de uma dívida histórica do ocidente com o povo judaico: “A questão do Holocausto é muito importante para a criação de Israel e pra essa dívida moral que a Europa [tem]. Eu não digo o mundo, eu digo Europa [...] Eles precisavam expiar essa culpa e espiaram criando um novo problema, né?”

A professora se refere ao plano da Organização das Nações Unidas (ONU), lançado em 1947, para dividir as terras árabes entre Israel, criando assim o estado judeu, também a Palestina como parte do estado árabe, e Jerusalém, no centro, para ambos, com um sistema de controle internacional.

Ouça o episódio:
 

 

Ao Três por Quatro, o ex-presidente do PT José Genoíno explica que o projeto não foi bem aceito por ambos os lados, o que marcou o início do conflito na região, com vantagem para o governo judeu. “Israel derrotou as resoluções da ONU, aplicando uma violenta opressão, ocupação e morte. Qual era o respaldo que Israel tinha? Os Estados Unidos que acendia como potência imperialista na Guerra Fria contra, a então, União Soviética.”

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Em resposta, o povo árabe viveu um longo processo à procura de uma liderança palestina autônoma. Segundo a professora de História da USP, assim nasceu os grupos como Fatah e Hamas. Ela explica que no início, “todos esses vão adotar a guerrilha como um modo de ação. É um movimento de libertação nacional.”

Clemesha destaca: “Qualquer um que faz a resistência ao establishment – Europa e Estados Unidos –, a oposição é sempre considerada terrorista”. E, de fato, a professora relembra casos extremistas, como o atentado terrorista nas Olimpíadas de Munique, em 1972, que matou integrantes da delegação de Israel. 

Diante das condições precárias da população que vive hoje na Faixa de Gaza, Genoíno avaliou: "O direito à rebelião diante desse massacre, diante dessa violência, não é o direito de um povo escolhido. Não existe povo escolhido. Os povos têm direito a sua existência, a sua identidade dentro de uma pluralidade civilizatória, religiosa, política, cultural, para viver em paz.”

Já a professora de História da USP destaca: “A Faixa de Gaza já vive um bloqueio quase impenetrável há 17 anos. Então, essa panela de pressão já vem explodindo de diversas formas”.

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Ela relembra: “Esse é o quinto massacre contra os palestinos de Gaza. Não é o primeiro, é o quinto. Então, o bloqueio dura 17 anos, e o que aconteceu agora? Eles disseram que não vão deixar entrar mais nada. Então, o bloqueio já existia, mas entrava aquele mínimo”.

Genoíno foi mais longe, o ex-presidente do PT comparou a situação dos palestinos hoje, com a mesma vivida pelos judeus na Segunda Guerra Mundial: “Agora, virou um  campo de concentração a céu aberto. Corta a luz, corta a água, não entra remédio, não entra comida, vai matar as pessoas” . 

Segundo Clemesha, a tentativa da ONU em dividir a região em duas partes “fechou os olhos do mundo” para a real situação entre Israel e Palestina. “Existe uma situação de Apartheid, e qual que tem que ser a resposta? Direitos humanos, tem que defender os direitos humanos para todo mundo. Seja Israel, seja Palestina, seja o que for. Tem que haver a defesa da extensão de direitos humanos para todos no território", afirmou.

O podcast Três por Quatro é apresentado por Nara Lacerda e Igor Carvalho, agora em temporada fixa no Brasil de Fato. Nesta nova fase, além dos comentários do João Pedro Stédile, liderança do MST, a equipe também conta com a presença do ex-presidente do PT, José Genoíno.

Novos episódios do Três por Quatro são lançados toda sexta-feira pela manhã, discutindo os principais acontecimentos e a conjuntura política do país. 

Edição: Rodrigo Durão Coelho