O ex-ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Joaquim Barbosa criticou, em suas redes sociais, o posicionamento do ex-vice-presidente e agora senador eleito Hamilton Mourão (Republicanos-RS) sobre a decisão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) de demitir o comandante do Exército, o general Júlio César de Arruda.
Mourão afirmou que Lula quer alimentar uma crise com as Forças Armadas ao demitir militares após o 8 de janeiro, quando forças de segurança foram coniventes com o ato criminoso de bolsonaristas que invadiram e depredaram os prédios dos Três Poderes.
"Se o motivo foi tentativa de pedir a cabeça de algum militar, sem que houvesse investigação, mostra que o governo realmente quer alimentar uma crise com as Forças e em particular com o Exército. Isso aí é péssimo para o país", disse Mourão em entrevista à Folha de S. Paulo neste sábado (21).
Leia mais: Lula troca comando do Exército treze dias após ataques em Brasília
Logo em seguida, Joaquim Barbosa afirmou que há uma insubordinação tolerada pelos militares. "Ora, ora, senhor Hamilton Mourão. Poupe-nos da sua hipocrisia, do seu reacionarismo, da sua cegueira deliberada e do seu facciosismo político! Fatos são fatos! Mais respeito a todos os brasileiros!", afirmou o ex-ministro.
"'Péssimo para o país' seria a continuação da baderna, da 'chienlit' [transtorno, em francês] e da insubordinação claramente inspirada e tolerada por vocês, militares. Senhor Mourão, assuma o mandato e aproveite a oportunidade para aprender pela primeira vez na vida alguns rudimentos de democracia! Não subestime a inteligência dos brasileiros!", concluiu.
Demissão do comandante
A demissão de Júlio César de Arruda ocorre depois que o general não demonstrou esforços para buscar e responsabilizar militares que participaram direta ou indiretamente de ataques às instituições e de atos de contestação do resultado eleitoral que empossou Lula ou que são suspeitos de atos ilegais.
O estopim teria sido a resistência em exonerar o tenente-coronel Mauro Cid do comando de um batalhão do Exército em Goiânia (GO) a pedido do ministro da Defesa, José Múcio. Cid foi apontado como responsável de transações financeiras suspeitas dentro do gabinete do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), como revelou reportagem do Metrópoles. Hoje, Cid está nos Estados Unidos com o ex-presidente.
Leia também: Ajudante de ordens seria operador de caixa 2 de Bolsonaro no Planalto, diz site
Antes disso, Arruda foi contra a remoção de bolsonaristas do acampamento que foi instalado em frente ao quartel-general do Exército, em Brasília, e que serviu como ponto encontro para os criminosos que atacaram as sedes dos Três Poderes.
"Evidentemente que depois desses últimos episódios, a questão dos acampamentos e a questão do dia 8 de janeiro, as relações, principalmente no Comando do Exército, sofreram uma fratura no nível de confiança e nós achávamos que nós precisávamos estancar isso logo de início até pra que nós pudéssemos superar esse episódio", disse Múcio, neste sábado, logo após anunciar a exoneração de Arruda.
Edição: Nicolau Soares